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Por, Mônica Comenale.

Conceitos de transferência  e contratransferência para a  psicanálise

 

 

      Freud, em seu texto dinâmica de transferência de  1912, apresentou  o conceito da transferência como um fenômeno paradoxal: embora constitua resistência, é fundamental para o trabalho de análise.

       "O analisando geralmente não se lembra de tudo o que é esquecido e reprimido, mas age sobre ele. Ele não o reproduz como uma memória, mas como uma ação; ele o repete, sem saber, é claro, que ele faz". (Sigmund Freud)

     A transferência é como uma força motriz na cura psicanalítica. Ela é constituída por sentimentos que podem ser tanto bons, quanto maus, projetados na pessoa do analista pelo analisando, no decorrer do trabalho psicanalítico.

        Segundo as teorias de Freud, toda vez que experimentamos novas sensações, trazemos parte de nossas experiências passadas que nos deixaram uma marca em nosso subconsciente. Assim, ocorre a transferência, através das ideias e sentimentos ligados a pessoas que nos relacionamos no passado, projetados para outra pessoa em nosso presente. As transferências estão intimamente ligadas aos vínculos mais antigos e emocionalmente relevantes, que geralmente, são relacionamentos com figuras parentais e maternas, que geralmente ecoam no relacionamento dos pacientes com as pessoas que desempenharam um papel central na infância.

         A relação de transferência entre o analista e o analisando, traz a seguinte oportunidade: se o paciente coloca o analista no lugar do seu pai (ou mãe), ele também está dando a ele o poder que seu superego exerce sobre seu ego, já que seus pais eram, a origem de seu superego.

      Freud acreditava que seus clientes precisavam reviver as experiências emocionais centrais de suas vidas, através da transferência, com o propósito de se convencerem da existência e do poder de seus próprios apegos e motivações inconscientes. A conscientização obtida com a transferência proporciona aos clientes a entender as fontes de seu comportamento e os, ajuda, ativamente a trabalhar e resolver seus problemas.

       A transferência também  pode ser um obstáculo para a cura, e pode criar o que é chamado  resistência, e intervir no processo analítico, tanto de forma positiva como negativa. O conjunto de sentimentos do analisando em relação ao analista, seja de afeto, admiração, aborrecimento, desconfiança, frustração, devem ser estudados, como parte do trabalho psíquico, e investigado com  algumas perguntas, por exemplo:

 

  • Com quem já experimentou esses sentimentos?

  • Quem o lembra  seu analista?

A transferência pode vir a se apresentar, da seguinte forma:

 

Transferência positiva.

 

  • A transferência positiva, é aquela em que os afetos projetados em relação ao analista são amigáveis ou relacionados ao amor. Esse tipo de transferência é desejável se não for muito intensa, mas se vir a se tornar forte, será prejudicial, porque levará a uma paixão romântica, obsessiva ou  a uma extrema erotização na relação terapêutica, o que ocasionará no fim dela.

 

 

Transferência negativa.

 

  • A transferência negativa é baseada em sentimentos de ódio e aversão ao psicanalista, que obviamente se for muito intensa, poderá gerar ao término das sessões, porém se for moderada, o analista poderá usar o tópico das discussões e examinar as respostas emocionais. Esse tipo de transferência é especialmente útil para o analista, por surgir  a possibilidade  de examinar a resposta emocional e desproporcional à realidade, durante a sessão.

 

         Um fenômeno que poderá ocorrer junto à transferência, se chama contratransferência, o termo foi introduzido por Freud no ano de 1910, em  "As perspectivas futuras da terapia psicanalítica". A contratransferência surge através dos sentimentos inconscientes do paciente, mas, por outro lado, influenciam os sentimentos do analista. Ela consiste nas ideias e afetos que o próprio analista projeta nos pacientes com base em suas experiências passadas, inconscientemente. Sendo assim, o analista deve sempre estar ciente da possibilidade que seus próprios conflitos internos, possam ser transferidos para seu cliente. Portanto, o analista deve estar atento para perceber que nem tudo o que se sucede durante a sessão é transferência do analisando, mas que às vezes o que se passa tem fundamento em seus próprios sentimentos, gerando a contratransferência.

         Para Freud, era importante que os psicanalistas soubessem detectar os efeitos da contratransferência, perante o relacionamento  e de suas reações, com seus pacientes. Vejamos, alguns tipos de contratransferência:

 

 

Contratransferência erotizada:

  • Tem sua origem  quando surge certa  necessidade de controle ou poder sobre o paciente, podendo ser confundida como desejo sexual.

 

Contratransferência somatizada:

 

  • Pode ocorrer por uma simples resposta corporal em relação ao paciente como, por exemplo: bocejar, sentir sono... .

 

       Ao se conhecer os mecanismos da transferência, se torna possível  aprender a gerenciar a contratransferência e a se posicionar como analista, diante da transferência do analisando. Tanto a transferência, quanto a contratransferência, se forem identificadas com antecedência e trabalhadas corretamente, poderão ajudar no desenvolvimento da análise. Assim, tanto a transferência no paciente, quanto a contratransferência no analista, são essencialmente processos idênticos, porém o analista possui consciência e sabe como lidar com seus sentimentos diante do processo terapêutico. 

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